terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Destino



Era um dia muito especial para mim e para meus pais. Naquele 20 de junho de 1992, eu completava 1 ano de vida. Dia esse memorável só para todos os meus parentes, porque eu não me lembro de nada.
Meu condomínio tinha na época uma atmosfera muito familiar. Todos se conheciam e as crianças tinham praticamente a mesma idade. Assim, quando alguém fazia um aniversário, os vizinhos convidados costumavam ajudar a organizar a festa alheia. No entanto, nesse dia 20, quando meu pai decidiu fazer a minha festa, os vizinhos desapareceram. Uns estavam cuidando de suas lhamas cegas enquanto outros estavam dormindo mesmo. Ninguém apareceu para ajudar. Sozinho, meu pai passou a tarde toda realizando os preparativos da festa.
Na hora da festa, como em um passe de mágica, os vizinhos apareceram. Devia ser pelo cheiro dos maravilhosos salgadinhos e quitutes. O tema da festa era bem característico para mim. Palhaço. Mal sabia eu que aquilo era a minha recém nascida consciência tentando alertar sobre meu futuro.
A festa foi se desenrolando muito bem e como de costume em festas infantis, os pais do aniversariante contratam algumas atrações. Na minha festa não seria diferente. Meus pais haviam contratado um mágico e, naturalmente, um palhaço. O mágico começou a tirar coelhinhos e pombinhas brancas da cartola recebendo aplausos fervorosos das criancinhas tolas. Porém, enquanto isso, Pipoquinha, o palhaço contratado, aguardava o momento do seu show ao lado do bar. Foi aí que ele viu um copo de cerveja solitário na bandeja de um garçom. “Que mal um copo de cerveja vai fazer?” Pensou Pipoquinha. Como já diria um amigo meu, depois da primeira dose a gente perde a conta. Com o palhaço não foi diferente.
Depois de longos quarenta minutos do show de mágica, o palhaço foi chamado ao palco central da festa. Cambaleando, foi ao encontro das criancinhas. Por sorte, eu havia começado a andar naquele dia, e rapidamente escapei dos ataques de Pipoquinha, o palhaço bêbado. Ele tentou se recuperar. Cantou duas músicas e de repente desabou no chão, machucando seu rosto. O sangue em seu nariz assustou as criancinhas, que correram desesperadas pelo salão de festas a procura de um abrigo. Pipoquinha foi expulso rapidamente e a festa seguiu normalmente, com um extra para a hora do parabéns, quando eu resolvi tocar o fogo queimando meu dedinho indicador (ainda bem que não foi meu polegar oponível).
Depois dessa festa, meus outros 18 aniversários foram em casa somente para a família com uma singela torta.
O tempo passou e esses dias eu estava vendo uma reportagem com meu pai na TV sobre empreendedores que começaram do zero e cresceram. Foi aí que apareceu um rapaz que largou tudo para abrir uma rede de supermercados. Quando viu o bem sucedido homem, meu pai disse: “Que engraçado, esse aí parece o palhaço da sua festa de um ano.” Olhei atentamente para a TV procurando descobrir qual era o supermercado comandado pelo eternizado Pipoquinha. Não consegui ver o nome do mercado, mas li uma frase capital que fez minha consciência dar uma risada tão alta capaz de fazer um morador de Caxias ouvir. Em letras pequenas, estava escrito abaixo do letreiro gigantesco:

“Tudo por você.”

Até a próxima
Mobilio
obs: Feliz aniversário Cascon!!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Festa no clube




por Thesuma Litav

Na porta do clube já tava cheio de gente. Animei-me com a esperança de que a festa fosse ser bem legal. Entrei com o Fred cedo, para iniciar os trabalhos logo. Fomos direto para o balcão, comecei a ler as paradas e fiquei perplexo: “Dose dupla de Smirnoff – R$5,00”. Olhei pro Fred com a tradicional cara de “vai dar merda”.
Obviamente não íamos beber aquilo puro, misturamos no copo 1 parte de vodka, 2 de ar e umas pedras de gelo. Certamente o copo estava furado. Depois de alguns refis já estávamos rindo à toa. – Se eu bem me conheço, daqui a pouco já to fazendo merda adoidado - Pensei naquele momento.
Dito e feito, eu me conheço bem, pelo menos. Estamos conversando quando, de repente, surge a “menina 1” – Eu sei que é escroto numerar, mas seria mais ainda citar nomes aqui – Ela parou para falar comigo – É caixa – Pensei logo.
Papo vai, papo vem e o assunto não morre. Fiz algumas piadas como de costume, e ela estava rindo, belo sinal. O álcool ainda não tinha se manifestado e eu já estava achando estranho. Empolguei-me, péssimo erro.
Sempre que fizer piadas, lembre-se de não mencionar coisas que possam ser verdade. Eu, naquele momento, esqueci desse mandamento. Já estava fazendo piadas demais (no máximo três, por favor) quando resolvi encerrar com chave de ouro:
- Porra, te chamei para comer pizza e você ficou na dúvida. Agora eu não sei mais o que fazer, se você recusou seu programa favorito, não sei mais para qual te chamar...
Ela fechou a cara. “Olha o que ele fez!”, era a narração de Galvão Bueno que ecoava na minha cabeça. Ela respirou e eu pensei no velho Nostradamus: “O fim está próximo”.
-Porra, ta me chamando de gorda!?
“Putaquiparil”, pensei. De todos os maus entendidos possíveis, esse era o pior que você pode criar, é melhor até xingar a mãe. Quando uma mulher entende que você disse ou quis dizer isso, dá um trabalho enorme para consertar o estrago, porque você alimenta o complexo que todas elas têm. Já que tava maior fadiga, achei melhor tirar o time de campo.
-Claro que não, vou ali pegar uma dose de vodka, já volto.
E fui.
Estávamos eu e Fred andando na pista. Refletia sobre o que tinha acabado de fazer ao som de um pagode como trilha sonora – Porra, pagode não! - Tava puto, lógico.
Do nada, encontrei a “menina 2” e parei para conversar. Fred reprovou essa atitude com veemência, afinal o DJ tinha acabado de lançar “Miami Bitch”, uma de nossas favoritas. Nas CNTP eu jamais perderia essa música, mas eu estava em dívida com a “menina 2”, ou pelo menos pensava que estava.
Deixe-me explicar. Na última vez que eu encontrei a peça, sofri uma espécie de amnésia, não sei muito bem por que. O fato é que acordei no dia seguinte e só lembrava dela me xingando por ter esquecido seu nome em meio ao processo de desenrolo.
“Vou me redimir e fazer bonito”, matutei assim que parei. É sempre bom pedir desculpa quando você vacila, elas gostam. O problema todo era a minha amnésia anterior. Então a conversa foi basicamente a seguinte:
-Fala aí, tudo bem?
-Tudo bem- Ela respondeu com um sorriso que eu achei estranhíssimo.
-Então, queria me desculpar pela La Vie, não quero que você fique com uma impressão errada minha. – Falei orgulhoso.
-Tá maluco? – Congelei.
-Não, por quê?
-Você esquece meu nome, eu fico contigo e você me pede desculpas por ficar comigo?!
-IH CARALHO! – Deixei escapar, foi mais forte que eu. Naquele segundo Galvão Bueno se esgoelava na minha mente. “Olha o que ele fez! Olha o que ele fez! Olha o que ele fez!”.
A resposta dela eu prefiro nem comentar, em respeito a minha arvore genealógica. Mas vocês podem imaginar. Daí, abaixei a cabeça, ouvi tudinho, e saí desanimado.
Tomamos mais um daqueles drinks: uma de vodka para duas de ar. Naquela altura não tinha mais gelo na casa. Dei uma volta para espairecer. Acabei encontrando um cara que eu tinha conhecido na Bahia, gente boníssima até então. A conversa me fez relaxar um pouco.
Foi quando ví a menina3, que tinha me chamado para tomar uma tequila. “Agora vai!”. Mas, como eu já estava visivelmente alcoolizado, o sussurro que tentei mandar para Fred se tornou um berro:
- Achei!
O parceiro da Bahia se estragou de rir, porque ele conhecia a menina 3 de longa data. Por isso, ele a chamou para conversa e começou a “perder a linha” severamente:
-Tava procurando quem?! Essa loirinha aqui?! É ela?!
Se eu fosse um avestruz, um buraco me viria bem a calhar, poderia eu enfiar minha cachola no breu e me safar daquela situação. Dei umas risadas de nervoso, com vontade de dar um tiro no maluco.
Nisso a menina entendeu que eu tava tirando vantagem por ter ficado com ela, uma semana antes. E lá estava eu, indo para o saco novamente. Para completar ele perguntou:
-Vocês já se pegaram?
Quando eu tava ensaiando um “sim” tímido como resposta, a peça já retrucou.
-Não.
“Que beleza! Essa aí tem orgulho de ter ficado comigo!” Era meu pensamento.
Pelo andar da noite, o suicídio era a única saída, tava foda. – Desculpa o palavreado.
Decidi inovar, nada de vodka, estava dando azar. A velha José Cuervo era a boa naquele momento de tristeza profunda. Depois da luta no balcão para conseguir meu drink, tomei-o em tempo que, se cronometrado, entraria para o Guiness, sem sombra de dúvidas.
Prestei atenção na musica que tocava. “Lá laiá laiá laiá laiá laiá laiá...” – Pagode, de novo. A situação era dramática, comecei a dividir meus bens na minha mente, a morte era questão de segundos...
Advinha?! Surge a “menina 4” – Niterói é um ovo mesmo – Passei do lado dela e a descrição da moça foi das mais ridículas. Comecei a escolher as palavras com cuidado para uma abordagem menos tosca do que as anteriores.
O medo era grande, minha auto-estima estava à beira de um colapso. Mas, mesmo assim, cheguei perto.
Trocamos algumas palavras e ela me perguntou:
-Está solteiro?
-Tô – Respondi vibrante.
Ela riu.
Gol do Flamengo.

Thesuma Litav postará alguns textos por aqui.
Até a próxima
Mobilio

sábado, 6 de novembro de 2010

Niterói - Barra. Só de carro por favor.



Depois de ter uma aula de francês no sábado de manhã, eu ainda tinha uma missão: ir pra Barra partindo de Niterói. Infelizmente, como não sou portador de viatura própria, fui de ônibus. Até a Gávea, moleza. Era só pegar o 751 D e pronto. Mas aí aconteceu o pior. Eu tinha que ir da Gávea para a Barra e não sabia que ônibus pegar. Fiquei ali por aquela rua que segue em direção a Barra esperando minha condução. Foi aí que vi um ônibus (175 / Recreio). Pensei: Minha chance. No entanto, o ônibus estava tão cheio quanto o Guanabara no dia em que fui. Impraticável. O motorista nem parou o ônibus porque se parasse, ele jamais sairia do lugar.
Infelizmente o destino pregou-me uma peça. A única referência que eu tinha para casa da minha avó era: “Ela mora perto do novo Guanabara Barra”. Tendo essa PRECIOSA informação fui conversar com transeuntes no local. Foi aí que uma moça disse-me: “Ih esse ônibus que está vindo aí passa lá. Pega ele.” Agradeci e me virei para o ônibus. Lembrei-me de vários filmes em que essa virada clássica de corpo acontece, porém a pessoa que vira o corpo sempre se dá bem. Eu me dei mal, naturalmente.
Aquela carroça que na década de 70 era um ônibus de respeito ia para Vargem Grande, ou seja, se eu dormisse no ônibus, iria acordar com a polícia federal exigindo meu passaporte e a alfândega querendo confiscar meus pertences.
Pulei o primeiro degrau do pau de arara que estava com um buraco e paguei a passagem. Quando fui me sentar, foi difícil escolher um lugar decente. Era possível perceber uma camada de suor grudada nos bancos, camada essa oriunda dos tempos de ditadura e das pessoas voltando para casa do Rock in Rio I (1985).
Após escolher o lugar menos nojento, comecei a reparar no motorista e na cobradora. O motorista era idêntico ao Freddie Mercury e a cobradora era irmã da Queen Latifah.
Faltavam uns 20 minutos até a Barra, então percebi que a cobradora começou a conversar com um rapaz que estava perto dela. Freddie ficou com ciúmes e puxou um Nextel vermelho (aquele que quase não é chamativo) e começou a falar daquele jeito que só quem tem nextel sabe como é: O telefone tem que ficar o mais distante possível do seu dono.
Para mim, o motorista iria ficar alguns segundos falando no celular, porque sua profissão é arriscada e envolve vidas. Mas não, ele optou por dirigir um ônibus a 90 Km/h em um dia chuvoso com uma mão só. Nem queiram imaginar a minha cara quando o motorista começou a fazer zigue zague para entreter sua amada, a cobradora.
Quando saí cuspido daquele ônibus (em frente ao melhor supermercado do mundo), São Pedro resolveu me castigar: armou uma grande chuva exatamente sobre minha cabeça (uma grande área) e Murphy também apareceu na jogada, colocando minha avó no último prédio do condomínio, o mais longe da Avenida das Américas. Cheguei ensopado na casa de vovó após três horas de uma grande saga.
Depois descobri que enquanto eu passava por isso, minha consciência jogava poker com São Pedro, Murphy e o diretor do Guanabara. Eles estavam querendo MESMO me sacanear.
Até a próxima
Mobílio.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Como os brasileiros reagem à mudança de tempo.

30ºC ou mais
- Baianos vão a praia, dançam, cantam e comem acarajé.
- Cariocas vão a praia e jogam futevolei.
- Mineiros comem um “queijin” na sombra.
- Todos os paulistas vão para Praia Grande e enfrentam 2 horas de fila nas padarias e supermercados da região.
- Gaúchos esgotam os estoques de protetor solar e isotônicos da cidade.

25ºC
- Baianos não deixam os filhos sairem ao vento após as 17 horas.
- Cariocas vão à praia mas não entram na água.
- Mineiros comem um feijão tropeiro.
- Paulistas fazem churrasco nas suas casas do litoral, poucos ainda entram na água.
- Gaúchos reclamam do calor e não fazem esforço devido esgotamento físico.

20ºC
- Baianos mudam os chuveiros para a posição “Inverno” e ligam o ar quente das casas e veículos.
- Cariocas vestem um moletom.
- Mineiros bebem pinga perto do fogão a lenha.
- Paulistas decidem deixar o litoral, começa o trânsito de volta para casa.
- Gaúchos tomam sol no parque.

15ºC
- Baianos tremem incontrolavelmente de frio.
- Cariocas se reúnem para comer fondue de queijo.
- Mineiros continuam bebendo pinga perto do fogão a lenha.
- Paulistas ainda estão presos nos congestionamentos na volta do litoral.
- Gaúchos dirigem com os vidros abaixados.

10ºC
- Decretado estado de calamidade na Bahia.
- Cariocas usam sobretudo, cuecas de lã, luvas e toucas.
- Mineiros continuam bebendo pinga e colocam mais lenha no fogão.
- Paulistas vão a pizzarias e shopping centers com a família.
- Gaúchos botam uma camisa de manga comprida.

5ºC
- Bahia entra no Armagedon.
- César Maia lança a candidatura do Rio para as olimpíadas de inverno.
- Mineiros continuam bebendo pinga e quentão ao lado do fogão a lenha.
- Paulistas lotam hospitais e clínicas devido doenças causadas pela inversão térmica.
- Gaúchos fecham as janelas de casa.

0ºC
- Não existe mais vida na Bahia. Nem animal, nem vegetal, nem mineral.
- No Rio, César Maia veste 7 casacos e lança o “Ixxnoubórdi in Rio”.
- Mineiros entram em coma alcoólico ao lado do fogão a lenha.
- Paulistas não saem de casa e dão altos índices de audiência a Gilberto Barros, Gugu Liberato, Luciana Gimenes e Silvio Santos.
- Gaúchos aproveitam o friozinho gostoso para dar a b*****

Até a proxima

Mobilio







sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O que eu quero é... PREÇO!!!

O dia já tinha amanhecido, mas eu ainda dormia. Eram dez horas da manhã e já fazia um mês que eu não acordava naquele horário. Assim que levantei, meu pai lançou a seguinte pergunta com um tom de obrigação: “Vamos ao Guanabara?!?” Enquanto meu pai estava no Gua..., minha consciência já estava no aeroporto internacional embarcando para Tóquio.
Nos arredores do supermercado, já era possível perceber uma anormalidade. Apesar de o trânsito niteroiense ser ridículo, eu nunca imaginava que iria parar no trânsito as onze da manhã. Depois de meia hora, chegamos à porta do supermercado. Por lá, havia um guarda de trânsito. Segundo ele, o mercado estava entupido como nunca antes na história e o dono mandou fechá-lo por algum tempo. Naquele momento descobri algo que meu pai havia escondido de mim: Era aniversário do Guanabara.
Eu ainda não tinha conseguido entender como um supermercado gigante e com 80 filas de compras estaria lotado, isso só aconteceria se Niterói inteira estivesse lá. Foi aí que percebi que havia um ônibus de São Gonçalo que parava em frente ao mercado. Ahhh maldita São Gonçalo. A população gonçalense estava lá, inclusive o ritmista da porto da pedra (Alô São Gonçalo!).
Depois de ficar uma hora na fila da entrada do estacionamento, entramos como gladiadores na cova dos leões gonçalenses.
Ao estacionar o carro, descobrimos que os 1500 carrinhos do mercado estavam em falta, e para pegar um era necessário ficar em outra fila enorme. Foi aí que meu pai teve a segunda melhor ideia do dia (a melhor estará nas próximas linhas): “Vamos ver como está lá em cima. Se estiver impossível a gente vai embora”. Por mim eu ia embora dali mesmo, mas se eu não tivesse subido aquela rampa esse texto acabaria aqui.
A rampa de subida pra mim assemelhava-se a um monstro que estava prestes a me engolir. Dali já era possível ver o caos no mercado (como se eu não pudesse ter percebido isso antes). Além disso, eu via nos rostos das pessoas que estava indo embora o retrato do cansaço. Eu peguei a conversa de uma senhora que disse que estava lá desde as seis da manhã!
Descobri que o inferno era logo acima, no fim da rampa.
Eu vi de tudo naquele lugar. Enquanto os anunciadores (três) gritavam as malditas promoções dos selinhos, as pessoas se atropelavam para pegá-los. Ali, os seres humanos voltaram a ser selvagens. As filas das compras cruzavam todo o supermercado e crianças corriam alucinadas procurando seus pais. Aquilo não era mais um supermercado, era como um show do Belo grátis na praça principal de São Gonçalo (se é que existe praça por lá).
Depois de ver um rapaz ‘domando’ três carrinhos super cheios, meu pai teve a melhor ideia do dia: “Vamos embora daqui, agora!”
O relógio anunciava três horas da tarde quando saímos daquele recinto maldito. Assim que tirei o carro do estacionamento, vi um ônibus de turismo velho com umas 70 pessoas gritando alucinadamente no seu interior estacionando. No vidro da frente estava escrito: ALCÂNTARA-GUANABARA – SAÍDA AS 8:00hrs. Era uma caravana que vinha fazer compras no Guanabara. Foi nesse momento que minha consciência voltou pra minha cabeça junto com meu bom senso.

Até a próxima
Mobilio

domingo, 17 de outubro de 2010

Estreia de Harry Saco

Era uma sexta especial para muita gente, menos pra mim. O quinto filme de Harry Potter estrearia em todas as grandes salas de cinema do mundo e minha atual ex-namorada comprou um par de ingressos. Contra minha vontade, fui ao cinema.
Ao chegar por lá, já era possível perceber algumas modificações no shopping. Não era preciso procurar muito para se deparar com seres vestidos de bruxos portando varinhas gritando frases em latim semelhantes aos feitiços da série. Naquele momento minha consciência urrava em meus ouvidos: “Desapareça!” No entanto, resolvi dar uma chance ao bruxinho de óculos quebrados. Fiquei.
O filme começaria às oito da noite. Cinco e meia da tarde eu já estava na fila da entrada, entre as pessoas sem noção com capas e gravatas esquisitas que gritavam sem parar. Eu cheguei a ver um garoto com uma miniatura de Potter em seus braços. Nesse momento, minha consciência já tinha desaparecido e acabara de mandar uma mensagem para o meu celular dizendo: “Hahaha se fode aê!”. Depois de recusar jornais do Harry Potter e receber alguns feitiços, as portas da sala do cinema se abriram. Parecia que Moisés acabara de abrir o mar. Refrigerantes e pipocas caindo no chão, pessoas se atropelando para pegar o melhor lugar entre os oito mil no cinema. Coisa linda de se ver.
Esse tempo entre a entrada no cinema e o começo do filme é uma tortura. As pessoas tentam se encontrar no cinema e começam a urrar como selvagens: “Ô Jéssica!! Tô aqui! Vem logo!!”. O ritmista da porto da pedra entoava: “Alô São Gonçalo.”
[O problema de morar em Niterói é que é perto de São Gonçalo. Enquanto a luz do cinema não se apagava, era possível descobrir facilmente a origem das tribos. Alô Alcântara, Alô Tribobó e Alô para outros belíssimos lugares.
A cidade de São Gonçalo está no livro de turismo do Rio de Janeiro exatamente assim:
São Gonçalo: (Passe rapidamente.)]
Desculpem-me por falar um pouco de São Gonçalo, mas é que eu não aguento paraibagens do tipo: “ô Wanderkleyysson, vem logo nem.”
Voltando ao filme: A gritaria estava no fim quando algum terrorista resolveu apagar as luzes do cinema. A galera com sangue Gonçalense recomeçou a selvageria porque o trailer (a salvação dos atrasados) iria começar.
Como nesse dia eu não estava com sorte, o primeiro filme anunciado pelo trailer era da saga Crepúsculo, que de saga não tem nada, é só uma sequencia de filmes que enriqueceu seus atores e diretores. Assim que apareceu o lobinho sem camisa, as meninas começaram a entoar gritos agudos capazes de derrubar as paredes do cinema ou chegar ao tom das músicas da banda Restart.
Enquanto minha consciência estava na praia mandando fotos pra mim de seu passeio e me sacaneando, o filme prosseguia. O grande problema é que o bruxinho, com dezenove anos, sentia os primeiros efeitos de seus hormônios e as pessoas de quinze anos gritavam em todas as cenas. Um abraço entre Harry sua amada era suficiente para outro momento gritaria, e meus ouvidos não aguentavam mais.
Depois de duas horas e cacetada na sala de cinema, o filme acabou. Imaginei que o pesadelo havia acabado, mas me esqueci que pessoas anormais levam máquinas de tirar foto para o cinema. Assim, tive que esperar a sessão de fotos dos Gonçalenses acabar para poder ir embora.
Era a tão esperada hora de comer alguma coisa. Mas assim que vi a invasão Gonçalense na praça de alimentação, optei pela fome. Saí as pressas do cinema e fui pra casa, certo de que jamais aceitaria novamente convite para sessões de estreia, e muito menos pra ir pra São Gonçalo.
Até a próxima.
Mobilio

sábado, 16 de outubro de 2010

Ônibus 174


Dez anos depois desse trágico sequestro no Rio de Janeiro, tive oportunidade de ver, na mesma semana, os dois filmes desse evento: o documentário Ônibus 174, realizado por José Padilha (diretor de Tropa de Elite) e o segundo, última Parada 174, de Bruno Barreto.
Ambos os filmes, tratam do sequestro, mas com abordagens diferentes. O documentário reune imagens verdadeiras enquanto o filme volta um pouco no tempo e conta toda a história de Sandro, em detalhes.
Avaliando esses dois filmes, é possível perceber que a história de Sandro se resume a eventos trágicos, como ver a mãe sendo esfaqueada aos oito anos de idade e ver seus amigos mortos na chacina da Candelária.
O documentário mostra bem a revolta dos pedestres nas proximidades. Eles queriam a cabeça de Sandro. Já o filme mostra Sandro somente como uma vítima da sociedade segregadora. No filme, Sandro não queria assaltar o ônibus. Ele é representado como uma pessoa do bem, convertida pelo abandono e pelos eventos trágicos, que não foram poucos.
Enquanto o documentário mostra a realidade, o filme vai além. Mostra uma reflexão profunda sobre o futuro de nossas crianças abandonadas. Dizemos muito que a família estruturada é fundamental para uma boa criação, mas Sandro nada disso tinha. Ele não tinha nada a perder. A sociedade retirou tudo dele.
Como buscamos um país melhor se nesse momento milhares de Sandros estão nas ruas do nosso país passando fome e frio? Como confiar nos políticos que deixam isso acontecer? Como esperar um mundo melhor? Como salvar esses Sandros?
Para finalizar a melhor cena dos dois filmes pra mim é quando uma refém do ônibus diz ao Sandro: "Você sabe quem é a maior vítima disso tudo? Você."
Vale a pena ver esses dois filmes. Dá pra fazer uma excelente reflexão sobre o lugar em que vivemos. Comece pelo documentário para relembrar da história.
Até a próxima.
Mobilio