
por Thesuma Litav
Na porta do clube já tava cheio de gente. Animei-me com a esperança de que a festa fosse ser bem legal. Entrei com o Fred cedo, para iniciar os trabalhos logo. Fomos direto para o balcão, comecei a ler as paradas e fiquei perplexo: “Dose dupla de Smirnoff – R$5,00”. Olhei pro Fred com a tradicional cara de “vai dar merda”.
Obviamente não íamos beber aquilo puro, misturamos no copo 1 parte de vodka, 2 de ar e umas pedras de gelo. Certamente o copo estava furado. Depois de alguns refis já estávamos rindo à toa. – Se eu bem me conheço, daqui a pouco já to fazendo merda adoidado - Pensei naquele momento.
Dito e feito, eu me conheço bem, pelo menos. Estamos conversando quando, de repente, surge a “menina 1” – Eu sei que é escroto numerar, mas seria mais ainda citar nomes aqui – Ela parou para falar comigo – É caixa – Pensei logo.
Papo vai, papo vem e o assunto não morre. Fiz algumas piadas como de costume, e ela estava rindo, belo sinal. O álcool ainda não tinha se manifestado e eu já estava achando estranho. Empolguei-me, péssimo erro.
Sempre que fizer piadas, lembre-se de não mencionar coisas que possam ser verdade. Eu, naquele momento, esqueci desse mandamento. Já estava fazendo piadas demais (no máximo três, por favor) quando resolvi encerrar com chave de ouro:
- Porra, te chamei para comer pizza e você ficou na dúvida. Agora eu não sei mais o que fazer, se você recusou seu programa favorito, não sei mais para qual te chamar...
Ela fechou a cara. “Olha o que ele fez!”, era a narração de Galvão Bueno que ecoava na minha cabeça. Ela respirou e eu pensei no velho Nostradamus: “O fim está próximo”.
-Porra, ta me chamando de gorda!?
“Putaquiparil”, pensei. De todos os maus entendidos possíveis, esse era o pior que você pode criar, é melhor até xingar a mãe. Quando uma mulher entende que você disse ou quis dizer isso, dá um trabalho enorme para consertar o estrago, porque você alimenta o complexo que todas elas têm. Já que tava maior fadiga, achei melhor tirar o time de campo.
-Claro que não, vou ali pegar uma dose de vodka, já volto.
E fui.
Estávamos eu e Fred andando na pista. Refletia sobre o que tinha acabado de fazer ao som de um pagode como trilha sonora – Porra, pagode não! - Tava puto, lógico.
Do nada, encontrei a “menina 2” e parei para conversar. Fred reprovou essa atitude com veemência, afinal o DJ tinha acabado de lançar “Miami Bitch”, uma de nossas favoritas. Nas CNTP eu jamais perderia essa música, mas eu estava em dívida com a “menina 2”, ou pelo menos pensava que estava.
Deixe-me explicar. Na última vez que eu encontrei a peça, sofri uma espécie de amnésia, não sei muito bem por que. O fato é que acordei no dia seguinte e só lembrava dela me xingando por ter esquecido seu nome em meio ao processo de desenrolo.
“Vou me redimir e fazer bonito”, matutei assim que parei. É sempre bom pedir desculpa quando você vacila, elas gostam. O problema todo era a minha amnésia anterior. Então a conversa foi basicamente a seguinte:
-Fala aí, tudo bem?
-Tudo bem- Ela respondeu com um sorriso que eu achei estranhíssimo.
-Então, queria me desculpar pela La Vie, não quero que você fique com uma impressão errada minha. – Falei orgulhoso.
-Tá maluco? – Congelei.
-Não, por quê?
-Você esquece meu nome, eu fico contigo e você me pede desculpas por ficar comigo?!
-IH CARALHO! – Deixei escapar, foi mais forte que eu. Naquele segundo Galvão Bueno se esgoelava na minha mente. “Olha o que ele fez! Olha o que ele fez! Olha o que ele fez!”.
A resposta dela eu prefiro nem comentar, em respeito a minha arvore genealógica. Mas vocês podem imaginar. Daí, abaixei a cabeça, ouvi tudinho, e saí desanimado.
Tomamos mais um daqueles drinks: uma de vodka para duas de ar. Naquela altura não tinha mais gelo na casa. Dei uma volta para espairecer. Acabei encontrando um cara que eu tinha conhecido na Bahia, gente boníssima até então. A conversa me fez relaxar um pouco.
Foi quando ví a menina3, que tinha me chamado para tomar uma tequila. “Agora vai!”. Mas, como eu já estava visivelmente alcoolizado, o sussurro que tentei mandar para Fred se tornou um berro:
- Achei!
O parceiro da Bahia se estragou de rir, porque ele conhecia a menina 3 de longa data. Por isso, ele a chamou para conversa e começou a “perder a linha” severamente:
-Tava procurando quem?! Essa loirinha aqui?! É ela?!
Se eu fosse um avestruz, um buraco me viria bem a calhar, poderia eu enfiar minha cachola no breu e me safar daquela situação. Dei umas risadas de nervoso, com vontade de dar um tiro no maluco.
Nisso a menina entendeu que eu tava tirando vantagem por ter ficado com ela, uma semana antes. E lá estava eu, indo para o saco novamente. Para completar ele perguntou:
-Vocês já se pegaram?
Quando eu tava ensaiando um “sim” tímido como resposta, a peça já retrucou.
-Não.
“Que beleza! Essa aí tem orgulho de ter ficado comigo!” Era meu pensamento.
Pelo andar da noite, o suicídio era a única saída, tava foda. – Desculpa o palavreado.
Decidi inovar, nada de vodka, estava dando azar. A velha José Cuervo era a boa naquele momento de tristeza profunda. Depois da luta no balcão para conseguir meu drink, tomei-o em tempo que, se cronometrado, entraria para o Guiness, sem sombra de dúvidas.
Prestei atenção na musica que tocava. “Lá laiá laiá laiá laiá laiá laiá...” – Pagode, de novo. A situação era dramática, comecei a dividir meus bens na minha mente, a morte era questão de segundos...
Advinha?! Surge a “menina 4” – Niterói é um ovo mesmo – Passei do lado dela e a descrição da moça foi das mais ridículas. Comecei a escolher as palavras com cuidado para uma abordagem menos tosca do que as anteriores.
O medo era grande, minha auto-estima estava à beira de um colapso. Mas, mesmo assim, cheguei perto.
Trocamos algumas palavras e ela me perguntou:
-Está solteiro?
-Tô – Respondi vibrante.
Ela riu.
Gol do Flamengo.
Thesuma Litav postará alguns textos por aqui.
Até a próxima
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