terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Destino



Era um dia muito especial para mim e para meus pais. Naquele 20 de junho de 1992, eu completava 1 ano de vida. Dia esse memorável só para todos os meus parentes, porque eu não me lembro de nada.
Meu condomínio tinha na época uma atmosfera muito familiar. Todos se conheciam e as crianças tinham praticamente a mesma idade. Assim, quando alguém fazia um aniversário, os vizinhos convidados costumavam ajudar a organizar a festa alheia. No entanto, nesse dia 20, quando meu pai decidiu fazer a minha festa, os vizinhos desapareceram. Uns estavam cuidando de suas lhamas cegas enquanto outros estavam dormindo mesmo. Ninguém apareceu para ajudar. Sozinho, meu pai passou a tarde toda realizando os preparativos da festa.
Na hora da festa, como em um passe de mágica, os vizinhos apareceram. Devia ser pelo cheiro dos maravilhosos salgadinhos e quitutes. O tema da festa era bem característico para mim. Palhaço. Mal sabia eu que aquilo era a minha recém nascida consciência tentando alertar sobre meu futuro.
A festa foi se desenrolando muito bem e como de costume em festas infantis, os pais do aniversariante contratam algumas atrações. Na minha festa não seria diferente. Meus pais haviam contratado um mágico e, naturalmente, um palhaço. O mágico começou a tirar coelhinhos e pombinhas brancas da cartola recebendo aplausos fervorosos das criancinhas tolas. Porém, enquanto isso, Pipoquinha, o palhaço contratado, aguardava o momento do seu show ao lado do bar. Foi aí que ele viu um copo de cerveja solitário na bandeja de um garçom. “Que mal um copo de cerveja vai fazer?” Pensou Pipoquinha. Como já diria um amigo meu, depois da primeira dose a gente perde a conta. Com o palhaço não foi diferente.
Depois de longos quarenta minutos do show de mágica, o palhaço foi chamado ao palco central da festa. Cambaleando, foi ao encontro das criancinhas. Por sorte, eu havia começado a andar naquele dia, e rapidamente escapei dos ataques de Pipoquinha, o palhaço bêbado. Ele tentou se recuperar. Cantou duas músicas e de repente desabou no chão, machucando seu rosto. O sangue em seu nariz assustou as criancinhas, que correram desesperadas pelo salão de festas a procura de um abrigo. Pipoquinha foi expulso rapidamente e a festa seguiu normalmente, com um extra para a hora do parabéns, quando eu resolvi tocar o fogo queimando meu dedinho indicador (ainda bem que não foi meu polegar oponível).
Depois dessa festa, meus outros 18 aniversários foram em casa somente para a família com uma singela torta.
O tempo passou e esses dias eu estava vendo uma reportagem com meu pai na TV sobre empreendedores que começaram do zero e cresceram. Foi aí que apareceu um rapaz que largou tudo para abrir uma rede de supermercados. Quando viu o bem sucedido homem, meu pai disse: “Que engraçado, esse aí parece o palhaço da sua festa de um ano.” Olhei atentamente para a TV procurando descobrir qual era o supermercado comandado pelo eternizado Pipoquinha. Não consegui ver o nome do mercado, mas li uma frase capital que fez minha consciência dar uma risada tão alta capaz de fazer um morador de Caxias ouvir. Em letras pequenas, estava escrito abaixo do letreiro gigantesco:

“Tudo por você.”

Até a próxima
Mobilio
obs: Feliz aniversário Cascon!!